quinta-feira, 29 de setembro de 2016

VERÃO CHEGANDO


Voltando à ativa depois de um longo inverno, o Blog do Shaper trás uma pincelada do panorama atual do mundo das pranchas. O universo do design de pranchas de surf nunca esteve tão efervescente como em 2016. Diversas tendências que brotaram na última década parecem ter catalizado o cenário atual. Então, vamos a alguns exemplos do que eu estou falando:

Isopor/Epoxy x PU/Poliéster

O PU ainda domina, mas as pranchas de epoxy têm ganhado novos adeptos. Ainda tem muito espaço para melhorias, já que questões técnicas e de produção ainda são alguns dos entraves para que esta opção se torne mais presente no mercado. Os blocos de isopor XTR (extrudado) também farão a diferença, com pranchas mais resistentes e mais leves que os de isopor convencional (expandidos), tornando o processo mais próximo dos tradicionais de PU/Poliéster.


Designs Alternativos

Tanto os progressivos quanto os retrôs se tornaram uma fatia significativa dos mercados mundo afora e criaram uma comunidade que compartilha experiências na produção das pranchas e na criação de moda, vídeos e outros itens culturais. Neste universo ainda encontramos gente buscando materiais alternativos aos convencionais, como madeira, resinas vegetais e até mutantes feitas a partir de lixo e outros materiais de descarte reciclados.



Lazer x Competição (Performance)

Os últimos anos foram de muito trabalho no refinamento das pranchas. Vários eventos marcaram uma transição para modelos menores que os em voga anteriormente. Isso trouxe uma revolução na qualidade do surf, mas também trouxe muita dor de cabeça para os shapers. Equacionar as questões de balanço de rocker (curvatura de fundo), flutuação (volumetria) e área de planagem (outline), para sujeitos com níveis distintos de surf e para condições variáveis de onda, levou a uma série de experimentações que, agora, parecem ter atingido um denominador comum. No mundo das competições, onde os nível está alcançando patamares absurdos, podemos notar uma tendência ao retorno de bicos com menos área e pranchas mais estreitas do que vinham usando nos últimos anos. Parece que a segurança de shapes mais largos e planos está perdendo espaço para modelos mais rápidos e com mais rocker de bico e rabeta.



O que fazer?

Com a chegada do verão, o fluxo nas fábricas aumenta. É comum ver surfistas chegarem com fórmulas prontas para seus shapers, como se um modelo consagrado de algum surfista mais conhecido fosse a solução ideal para suas necessidades. Que bom se fosse (hehehe). Mas a realidade é cruel e a experiência mostra que as chances de erro são muito maiores. Se você tem um relacionamento mais próximo com seu shaper, confie mais na intuição dele, pois as chances de acerto são muito maiores, pode acreditar.


Cada surfista tem uma especificidade que o diferencia dos outros. Se fosse simples, os atletas profissionais comprariam pranchas em lojas (hahaha). Leve sua prancha atual, discuta suas dificuldades e seus objetivos, e tente desenvolver com seu shaper um trabalho de médio e longo prazo, que vai fazer você entender melhor quais os elementos que atuam na criação de uma prancha, facilitando a criação daquela prancha "mágica" que vai ser sua companheira nos melhores e nos piores mares. Pois como diz o ditado: "Mar bom é aquele que eu caio e me dou bem".

Boas ondas!


sábado, 1 de agosto de 2015

O OLHO QUE TUDO VÊ



Derek Hynd dispensa apresentações (pelo menos é o que se espera de pessoas que apreciam o surfe em sua totalidade). Surfista, competidor, escritor/articulista, designer e visionário, o que não faltam são adjetivos para este ícone da cultura do surfe. A revista Hardcore publicou, em português, uma matéria produzida por Jamie Brisick e originalmente publicada no Victory Journal.

Para ver a matéria da Hardcore, clique no link abaixo:


Para acessar a matéria em inglês, com mais fotos referentes ao texto, clique no link:


E aqui temos uma amostra da performance do Derek Hynd e sua prancha finless:


E aqui, mais uma matéria do Jamie Brisick sobre o DH, publicada em sua coluna no The Surfer's Journal:


Boa leitura!

quinta-feira, 5 de março de 2015

PANORAMA DO SURF ATUAL



Julio Adler e Bruno Bocayuva conversam com o renomado shaper brasileiro, Ricardo Martins. Na pauta, o atual estágio do surf em termos de desenvolvimento das pranchas, competição e mercado. Assuntos como a relação shaper x surfista, poli x epoxy, pranchas gringas x pranchas nacionais são abordados pelo shaper e comentadas pelos apresentadores. Portanto, cliquem no link e aproveitem a entrevista porque está muito boa!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O EFEITO MEDINA

Pois bem, finalmente, após anos de espera, o Brasil tem o seu primeiro campeão mundial de surfe - Gabriel Medina. Ele é fruto de muito talento, dedicação, apoio familiar e de patrocinadores. E só! Então, por mais que o país reivindique para si esta glória, ela é, acima de tudo, fruto do esforço e abnegação de poucos.



Se temos um Gabriel Medina hoje, não podemos esquecer que este caminho começou a ser pavimentado há mais de três décadas. A estruturação do surf, os campeonatos e circuitos, os atletas que emergiram deste cenário ao longo do tempo e que serviram de inspiração para as novas gerações subsequentes também devem ser reverenciados neste momento.

Parece incrível, mas o nosso campeão emerge numa época de crise, onde verbas públicas, privadas se tornaram escassas para investimento no esporte. Mas o que será do surfe daqui pra frente? O surfe mundial também passa por mudanças radicais, com o WSL (World Surf League) se consolidando como uma nova forma de gestão. Como é tudo muito recente, fica difícil de julgar se teremos uma evolução, ou se o esporte enfrentará dificuldades advindas deste novo formato.



Para o surfe nacional, as coisas parecem estar se encaminhando para um retorno triunfal dos grandes eventos profissionais, já que nos últimos anos a coisa toda degringolou. O tal do "efeito Medina" parece ter reanimado o setor e já existe a possibilidade do ressurgimento do Circuito SUPERSURF, com quatro etapas este ano. Esperamos que isso não fique restrito aos eventos profissionais, pois há anos o surfe amador está padecendo de melhores investimentos. Não podemos esquecer que todo atleta inicia sua carreira em sua associação local, competindo em pequenos eventos que são o criadouro dos futuros campeões. Neste quesito, a FECASURF tem sido uma referência a nível nacional, com o já tradicional circuito catarinense amador. 



Em termos de mercado, as pressões e as crises políticas e comerciais, internacionais e nacionais, podem comprometer um pouco a "onda" Medina, transformando ela numa mera marolinha. Mas isso é só especulação. Sejamos otimistas em meio a essa maré de pessimismo que assola o país e o mundo. Afinal, o surfe já mostrou no passado que poderia andar com as próprias pernas.






sábado, 26 de abril de 2014

STING - O GRANDE FERRÃO DA HISTÓRIA DO SURF


Ben Aipa é mais um daqueles sujeitos que deixaram sua marca na história do design das pranchas de surf. A famosa Sting (ferrão em português) foi objeto do desejo da galera dos anos 70's.



O site Surfline publicou uma matéria interessante, onde conta detalhes da criação e como foi a reação do mundo do surf àquela inovação. Vários ícones do surfe da época usaram o modelo e com suas performances ajudaram a estampar este design nas páginas de revistas e em filmes do período.



Confira a matéria no link abaixo e assista aos vídeos selecionados, que mostram o próprio Ben Aipa shapeando uma Sting enquanto conta um pouco da história do nascimento e do desenvolvimento deste famoso modelo e o seu piloto de testes mais famoso, Larry Bertlemann, considerado por muitos como um dos surfistas que mais influenciou o surf, baseado em manobras mais arrojadas.


Matéria do Surfline:


Vídeo com Ben Aipa:


Vídeo Larry Bertlemann 1:


Vídeo Larry Bertlemann 2:





quinta-feira, 21 de novembro de 2013

SURF x VELOCIDADE



Toda vez que alguém encomenda uma prancha nova o shaper ouve a mesma súplica: “queria que a minha prancha fosse rápida e solta”.  Às vezes eu até brinco com o cliente, dizendo que ele quer uma prancha sem quilhas...  Mas na verdade, essa situação é mais complexa do que parece.  Para melhor entender o meu ponto de vista, vou fazer uma breve retrospectiva histórica do desenvolvimento do surf nas últimas três décadas.



Nos anos 70, o surf era desenvolvido sobre pranchas muito maiores e grossas que as atuais.  Na sua maioria single fins (uma quilha).  Havia muita flutuação naqueles modelos, mas as manobras eram muito limitadas e lentas (comparando com os dias atuais).  Se pudessem ver revistas da época, notariam que o porte físico dos surfistas era bem diferente dos atuais.  Tudo era mais rústico e embrutecido.  No final desta década surgem as twin fins (bi quilhas), esboçando a primeira reação na direção de um surf mais progressivo.  Os grandes expoentes dessa geração foram Gerry Lopez, Rory Russel, Shawn Thomson, Mark Richards, Cheyne Horan e Reno Abelira entre outros.



Chegam os anos 80, e com eles a grande revolução das tri-fins (três quilhas), criadas por Simon Anderson.  Testadas nos expressos da Indonésia e apresentadas à comunidade do surf pelo próprio criador durante o tour daquele ano, estas verdadeiras máquinas de moer ondas causaram o maior impacto do ponto de vista do aproveitamento da onda em comparação com as suas antecessoras.  Ao mesmo tempo em que proporcionava maior velocidade, como as twin fins, aliava maior segurança nas manobras mais críticas.  O equipamento ficou mais refinado, assim como os surfistas que se criaram nestes modelos.  Nomes como Hans Hedeman, Willy Morris, Joey Buran, Bud Llamas, Terry Richardson, Tom Carroll e Tom Curren marcaram esse período.




Os anos 90 chegaram meio mornos.  Havia uma relutância no começo da década em relação aos avanços nos designs das pranchas.  Era o impacto do pós-moderno afetando a comunidade surfística.  Muitos afirmavam que o surf havia chegado ao seu máximo e que tudo que se fazia era nada mais do que usar velhas idéias com uma nova roupagem.  Mas como a Fênix, o surf ressurge das cinzas para provocar no mundo do surf a maior revolução técnica de todos os tempos. 


Mais uma vez, a necessidade por velocidade foi a mola mestra desse salto qualitativo.  Só que desta vez ela foi impulsionada por uma geração de surfistas estilistas e radicais.  As necessidades criadas pelas manobras de última geração deram um novo gás para os shapers e designers de plantão.  Toda a indústria do surf foi afetada.  Novos materiais como fibras mais leves e resistentes, blocos mais refinados e até roupas de neoprene mais elásticas surgiram.  Esta geração conta com surfistas do naipe de Kelly Slater, Mark Occhilupo, Kalani Rob, the Iron’s Brothers, Hobgood Brothers, Lopez Brothers e tantos outros brothers.



Chegamos aos anos 2000 e já estamos em 2013.  As performances dos atletas ficam cada vez mais espetaculares.  Nunca se produziu tantos vídeos de surf, que são devorados por uma legião de entusiastas, ávidos por assimilar novos truques de seus ídolos.  Garotos de oito anos podem ser vistos tentando uma variedade de ollies, aéreos e reverses, entre outras manobras.  A velocidade é extrema, como uma metáfora da era digital em que vivemos.  Mas o que é que tudo isso tem a ver com você?
Por que você pede uma prancha que te dê mais velocidade ao seu shaper?


Era uma vez um surfista chamado Donovan Frankenreiter.  Ele era famoso por fazer um surf descomprometido e alternativo.  Um dia ele resolveu surfar com velhos modelos no meio daquela galerinha que só queria usar o que havia de última moda.  Resultado? Todos ficaram de boca aberta com a performance do rapaz que fazia manobras de última geração num “toco” de 30 anos atrás.  Moral da história? Será que é a prancha que dá velocidade ao surfista, ou é o surfista que dá velocidade à prancha?







No próximo artigo, eu estarei abordando a questão da velocidade x surf em detalhes mais práticos. Até lá...


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

DESENVOLVENDO UMA PRANCHA EM CONJUNTO COM O SHAPER



Situação 1 – Eu queria uma prancha rápida e solta. Capricha!!!

Situação 2 – Eu queria uma prancha diferente.  O que você acha de uma double wing swallow, com um concave no pé da frente, passando para um double concave no pé de trás e seis canaletas na saída da rabeta???

Situação 3 – Eu queria uma prancha com as medidas que eu vi da prancha do “fulano-de-tal”, na revista “Influir”.




Eu duvido que exista um shaper no mundo que nunca se deparou (ou se depara) com uma, ou mais, dessas situações apresentadas acima.  O surf evoluiu muito nas últimas duas décadas no Brasil, mas certas coisas parecem não mudar nunca.  È por isso que eu resolvi escrever este artigo.  Quem sabe não lanço algumas sementes, para mudar um pouco essa realidade?  Mas é preciso derrubar alguns paradigmas, no intuito de melhorar o relacionamento surfista/shaper e tirar mais proveito dessa relação.




A primeira é a crença de que o shaper é um indivíduo infalível, uma espécie de “guru”, que domina todos os conhecimentos relacionados à prancha de surf.  O shaper é sim, um indivíduo com a habilidade de transformar um bloco de poliuretano numa prancha, fazendo uso do conhecimento acumulado através da experiência e do estudo das pranchas ao longo do tempo e das ciências correlatas ao seu ofício (física, matemática, hidro e aerodinâmica, química, resistência dos materiais, antropometria, ergonometria, etc).  Cada prancha é uma peça única, fruto do estágio de desenvolvimento do shaper num dado contexto histórico e cultural.  Sendo assim, o shaper reflete nas pranchas: a sua linha de pensamento (conceitos), as tendências que cercam o seu entorno cultural (feedback da equipe de competição, satisfação do cliente, as pranchas dos pros do WCT, novos materiais, a situação política e econômica do país, etc).




O segundo é também uma crença muito comum no meio surfístico: “a prancha que é boa para um pro, é boa pra qualquer surfista”.  Não necessariamente!  Cada surfista tem características próprias.  Mesmo surfistas que têm estilos muito parecidos podem apresentar diferenças grandes no design de suas pranchas.  Eu tenho um amigo que é fã incondicional do Occy e tenta surfar como ele, mas o seu estilo é mais parecido com o do Tom Curren. Como equacionar um problema deste?  Primeiro, temos um problema psicológico, onde um indivíduo idealiza uma imagem de si mesmo.  Depois temos a imagem que os outros têm desse indivíduo.  Por último, temos o shaper, que, independente dos dois fatores anteriores, tem que se ater as reais necessidades do indivíduo em questão para, só então, produzir a prancha ideal.




É neste ponto que começa a verdadeira relação entre surfista e shaper.  Desenvolver o design ideal para um determinado indivíduo é um trabalho que leva algum tempo.  Sobre o shaper, já mencionei anteriormente que é o indivíduo responsável por transformar idéias em realidade, dentro de um determinado contexto que o cerca.  Mas qual é a responsabilidade do surfista nessa hora?  Como ele pode contribuir para melhorar os resultados de tal relação?




Acho que a palavra-chave é FIDELIDADE.  Quando se encomenda uma prancha pela primeira vez, a maioria dos shapers, não conhecendo o surfe do cliente em profundidade, produz uma prancha mediana.  Essa prancha será o referencial que o shaper irá usar na hora de fazer a próxima prancha.  Mas o cliente é a parte mais importante nessa etapa, pois o “feedback” fornecido por ele será primordial para os ajustes a serem feitos na nova prancha.  Pena que isso, em grande parte, seja uma grande utopia...




A maioria dos surfistas sofre de um mal chamado “imediatismo”.  Esse mal impede, na maioria das vezes, que um trabalho de desenvolvimento de uma prancha em conjunto seja concretizado.  Não fossem os atletas das equipes de competição e uns poucos realmente interessados no desenvolvimento do seu surf de uma forma mais racional, o shaper não teria como avaliar os progressos do seu trabalho de uma forma mais direta e objetiva.





Portanto, na próxima vez em que você for encomendar uma prancha nova, converse com o seu shaper, mas não chegue com idéias pré-concebidas.  Tente expor a suas dificuldades, em vez de suas virtudes.  Tente conhecer mais sobre a prancha e seu funcionamento, começando por guardar as dimensões básicas delas.  Com o tempo, talvez, você esteja apto a chegar junto ao seu shaper e manter uma conversa mais produtiva na hora de decidir qual vai ser a sua próxima “nave”.